O “causo” do Corpo Seco é uma história recorrente no Vale do Paraiba. Paulo Vicente da Silva narra a lenda:
“Contam os antigo que corpo seco é quando a pessoa é tão ruim, mas tão ruim que nem o diabo se interessa pela alma dele, então ele seca, mas com a alma dentro, então ele não consegue morrer, fica por aí, assombrando as gente.
É os caso de filho que bate nos pai, do compadre que dorme com a comadre, de pessoas muito rica que judiô dos seus escravo… Em Jacareí, tinha muito corpo seco pra gente leva embora.
Como que eles aparecia?
Eles tirava a cabeça, ou os braço pra fora da terra, no cemitério e os coveiro vinha chama a gente pra dar um sumiço…Quando um desses aparecia, era preciso chama um parente do defunto pra bater nele com vara benta. Se não achava alguém da família, tinha que vir o padre pra benze com água benta, pra ele se acalmá um pouco. Era só home preparada pra essa função que podia fazer o trabalho, porque o corpo seco prometia tudo quanto é de coisa pra poder ficar solto no mundo: prometia riqueza, dizia que sabia onde tava enterrado os pilão de ouro, que tinha joia e moeda de ouro pra dá se soltasse ele. Falava essas coisas todas.
Então, o coveiro amarrava o corpo seco nas costas de quem ia carregar ele pra bem longe, prum campo no meio do nada, e lá tinha que deixar ele bem amarrado numa árvore. Ele tinha que ir amarrado nas costas de quem levava, porque se olhasse ele nos olhos, ficava hipnotizado e daí fazia o que ele queria. Tinha que ir rezando as reza certa na ida e na volta, e nunca que olhar pros olhos dele, nem quando amarrava ele na árvore. Depois que amarra, tem que voltar caminhando sempre de frente pra ele, porque se der as costas, ele pode se desprender e grudar outra vez nocê. Ele também era danado de esperto. Um compadre meu contou que carregaram um corpo por léguas, o dia inteiro. Quando chegavam num lugar que ele tinha falado que ficava, não era mais lá. Toca a carregar ele pra outro canto. Ás vezes andavam com ele o dia inteiro, sem ter um lugar que ele quisesse ficar. Era um problema, porque ele falava e falava e falava que não era o lugar que deixava o carregador meio de miolo mole. Aí memo no Cassununga, onde eu moro, tinha um corpo seco amarrado lá longe, no meio do pasto. Ninguém tinha coragem de passar lá por perto de noite…nem os bêbado, porque ele fica chamando, atentando a gente pra ir lá soltar! Tinha umas criança levada que ia lá atentá ele com umas vara comprida, mas só durante o dia. De noite todo mundo morria de medo, inté os cachorro! Os boi, as vaca, nos pasto, também nunca que chega perto… Os bicho sente, não é mesmo? Lá no bairro do Parateí, eu ouvi contar que também existia um corpo seco amarrado num ipê roxo…
Eu acredito muito nas alma do outro mundo, porque eu memo já tive muitos causo com elas, vi e fui assombrado lá na estrada do Campo Grande, várias vêis. Um dia eu fui guardá um corpo, porque sei muita reza pra isso, num lugar meio longe de casa. Então eu andava, as rua tudo escura, e apareceu um gemido que me acompanhava. Eu andava pela estrada, e o gemido pelo valo. E eu rezando, e tudo que eu rezava, respondia lá do valo: “Essa eu também sei!” E eu rezando, vendo a casa do defunto, e parecia que quanto mais eu andava mais eu não saía do lugar. Então adespois que eu rezei tudo que eu sabia, eu me alembrei da reza do 25 de março. Foi o que me salvou, com a graça de Deus. Essa oração é muito antiga e a gente só pode rezar ela num momento de muita precisão. Daí, quando eu terminei, me empurraram pelas costas e foi aí que eu consegui chegar…As pessoa que carrega os corpo seco tem nessa oração, muitas vezes a sua salvação, porque “os coisa” detesta ela.
O Corpo Seco é só pele e osso, a pele grudada nos osso e as unhas que vão crescendo sem parar e aquele cabelão que também não para de crescer… É muito horrível!